"E de repente a vida te vira do avesso, e você descobre que o avesso, é o seu lado certo." (Caio Fernando Abreu)

terça-feira, 17 de julho de 2012

Performances





No pacote recém aberto de quando nasci, podia se ver cada vez com maior clareza, o passar dos anos, o aviso grandioso de: cuidado, frágil. Na natureza que moldou minhas intempestivas reações e, tantas outras detalhadamente pensadas, era anunciada que o jeito de ser seria este e não havia chance de voltar atrás: com condimentos.
Fora da neutralidade, com tanta pimenta que chega a doer o olhar alheio. Abundância em sal, que é pra ter gosto e dar sabor a quem prova. As vezes doses a mais de açúcar. Satisfação a quem oportunidade de contato tem - mesmo que depois, litros e litros de água sejam então sorvidos. Aquela coisa talvez banalizada, mas aqui realmente seguida à risca: ame ou deixe! Se ficar, que seja para fazer parte do banquete de sensações ainda improváveis. Se for, corro até o risco de sentir falta, mas me adaptarei e, dependendo do grau de afinidade, um dia não terei mais saudade.

É preciso que tanto minha parte fria, quanto o calor dos meus atos seja sorvido, aos poucos, com toda parcimônia possível. Que se feche as portas, e retire o cardápio das mãos, quando a agressividade bater. E depois de ingerida, compreendida seja. Minutos depois, a mesma facilidade ao riso, e à ironia; o de sempre. Na têmpera em que fui criada, o experimento entre misturar intensidade com volubilidade deu na bomba que é ter personalidade demais, para o não muito de vivência que até aqui desempenhei. Para toda essa gente que finge ser uma coisa, e na verdade é o oposto. Pra quem come pelas beiradas, e acaba se alimentando de restos mal cozidos. Intempestiva, incluo em segredo, em alguma linguagem que apenas quem sente com todo o caráter pega a senha e tem acesso.

Caso o sol saia, irradio na sala vibrante, querendo que se contagiem todos com a beleza do dia todo ainda pela frente. Se chover, vou comemorar o vento frio, o dia nublado e a preguiça que esses dias proporcionam. Se hoje te abraço, é preciso que você me dê colo até que saia forte e cordial, dos mimos que preciso. Sem tal toque, me recolho e apenas me abro a quem não promete, e sim cumpre, age!
Irritadiça, resolvo num lampejo e com urgência as pendências que se apresentam. Relaxo, e sorrio, anestesiada. Colérica, quero o mundo, e quero já. Com algum sapato ou chocolate, quem sabe vestido ou maquiagem, sossego. Tudo porque o impulso é meu trampolim, e não canso de mergulhar ao fundo do que se misteria cada vez mais, e não encontro nunca as tais respostas corretas.

No adubo onde floresci, havia ainda um primeiro adendo, que esqueceram de inserir em meu manual de instruções - já perdido por aí, à esta altura do campeonato - e que em letras garrafais, proferia: cuidado! Especialmente no meio de cada mês, quando contrariada, ou acordada com o telefone tocando sem parar. O aviso é possível, mas ainda desconheço quem ao ver a flor quieta, calma e em seu lugar não aventurou o dedo e terminou a visita com sangue jorrando. Perigo de quem se aventura, recompensa de quem perdura. Quem êxito tem, não vive sem!

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